Sou professor de biologia e hoje ensinarei sobre a leptospirose, uma zoonose (doença infeciosa transmitida entre humanos e animais) amplamente distribuída, causada por espécies patogênicas de Leptospirose, com ocorrência de mais de 1.000.000 de casos no mundo por ano. Afeta grupos de risco, que estão expostos a reservatórios, animais ou ambientes contaminados.
Em países de clima tropical úmido, como o Brasil, a leptospirose tem caráter endêmico, e ocorre em períodos chuvosos, no qual as condições de transmissão da bactéria aumentam devido ao alto índice pluviométrico.
Além das condições climáticas, a doença também afeta áreas urbanas em países em desenvolvimento com condições inadequadas de saneamento e altas infestações de roedores. Rattus norvegicus (rato-de-esgoto) é o principal reservatório urbano da leptospirose no Brasil. Os roedores são cronicamente infectados por Leptospira interrogans sorovar Copenhageni, portadores assintomáticos após a colonização de túbulos renais e exibem leptospirúria intensa, chegando a eliminar 1010 microrganismos / mL, ponto central da epidemiologia da leptospirose.
Manifestações clínicas
As manifestações clínicas da leptospirose são variáveis, tornando a doença compreendida em duas fases:
- fase leptospirêmica, a qual ocorre logo após a penetração da bactéria ao hospedeiro e se direciona ao sangue do mesmo;
- fase imune, ocorre após a leptospiremia, caracterizada pela preferência das bactérias por órgãos específicos como fígado e rins.
A doença pode se manifestar de duas formas principais: aguda e crônica. O desenvolvimento de ambas as formas depende da adaptação, ou não, entre o hospedeiro e o sorovar infectante. Podendo ser:
- adaptada (hospedeiro adaptado ao sorovar), na qual a doença tem evolução crônica, com baixa resposta imune e sintomas inespecíficos;
- incidental (hospedeiro não adaptado ao sorovar), na qual a doença tem caráter agudo, com intensa resposta imune e uma variedade de sinais clínicos.
Humanos são hospedeiros incidentais e apresentam manifestação clínica da doença aguda, com sintomas variados na fase leptospirêmica como dor na panturrilha, dor de cabeça e mal-estar, sendo assim, confundida com outras doenças frequentes, como a dengue, por exemplo. Na fase imune, que geralmente acontece uma semana após a apresentação dos primeiros sintomas, pode ocorrer a evolução da doença para a forma clássica da leptospirose, conhecida como doença de Weil, na qual o humano desenvolve icterícia, falência renal e hepatite.
Os casos de óbitos de pacientes que desenvolvem essa tríade são superiores a 60%, no entanto, essa sintomatologia pode acontecer antes da primeira semana, principalmente em pacientes que apresentam a forma grave da doença, conhecida como Síndrome Hemorrágica Pulmonar Severa.