Diante da sugestão, do site Suas Aulas Particulares, de escrever um artigo para o blog que cada professor anunciante dispõe para si, surgiu a vontade de compartilhar com quem interessar possa essa reflexão que outro dia aportou em meus pensamentos. Vocês verão que boa parte dela está sendo inspirada pelo livro O Sentido dos Sentidos: A educação (do) Sensível, de autoria de João-Francisco Duarte Jr, e, do qual irei falar mais adiante.
Outro dia estava pesquisando sobre novas Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) voltadas para a educação, encontrei um artigo cujo título me absorveu a atenção. O escritor propunha através do título uma questão para ser refletida por cada um dos leitores, antes mesmo de lerem o artigo em si: Para você, quais são os principais desafios na educação atual?
Imediatamente pensei em tudo que vivemos durante o período mais agravado dessa situação pandêmica, seu tempo prolongado que promoveu muitas perdas e acirrou desigualdades. A necessidade sanitária que nos levou a ficarmos em casa, gerando prejuízos emocionais tão significativos que mesmo o retorno às atividades presenciais não conseguiu garantir a volta do bem estar.
É fato evidente que vamos ter que lidar com as sequelas desse período por um longo tempo, com o déficit gerado em todas as instâncias que será sentido e elaborado por todos nós. Outro fato, nem tão evidente, mas, de igual importância, é que mesmo vivendo em um período melhor, de aparente normalidade, o final da Pandemia ainda não foi decretado.
Pensar na Pandemia e na educação durante o período de isolamento social sem pensar no uso de Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) fica impossível. Mesmo quem nunca havia ouvido falar desse assunto teve que se familiarizar. O artigo que mencionei acima tratava desses desafios, da alfabetização digital e da implementação criativa/produtiva das TICs na educação, que sem dúvida representam grandes desafios.
Mas, a meu ver, o maior desafio da educação é transformar-se, sensibilizar-se no sentido de estimular a formação de sujeitos mais sensíveis, autônomos, conscientes e críticos. Para mim esta questão perpassa todos os demais desafios que a educação contemporânea tenha a enfrentar.
Estou relendo o livro O Sentido dos Sentidos: A educação (do) Sensível, de João-Francisco Duarte Jr. Comprei esse livro em 2004 quando ainda estava cursando a graduação e foi muito significativo para mim na época. Agora, cursando a especialização em Psicomotricidade, alguns trechos voltaram a minha memória e senti que seria interessante revisitá-lo.
No livro Duarte Jr. aborda a ‘Crise da Modernidade’ e suas implicações nas expressões artísticas, na formação estética e na educação como um todo. Ele inicia apresentando os diversos sentidos possíveis para a palavra ‘Sentido’, para nos levar a perceber que ao redor dessa palavra orbitam uma quantidade significativa de referências à capacidade humana de apreender a realidade de modo sensível, organizado e direcionado.
O autor distingue ‘conhecimento e saber’, considerando que o primeiro denota a posse de habilidades específicas adquiridas pela via intelectiva. Enquanto que o segundo refere-se a um conjunto maior de habilidades que são adquiridas pelas vias sensoriais, se relacionam entre si, e estão incorporadas (literalmente) a nós, ou seja, diretamente relacionadas com o corpo.
Logo no início da leitura já é possível perceber que Duarte Jr. pretende nos levar a pensar sobre qual o tipo de conhecimento que vem sendo edificado através da implementação do estilo de vida da sociedade moderna. Aborda aspectos do cotidiano que perpassam as relações entre o homem e a sociedade, esmiuçando o que a primeira vista pode parecer corriqueiro, mas, que no decorrer da leitura revela um conjunto de imposições estruturais que acabaram por dessensibilizar-nos. Traz à tona os alicerces que fundaram e sustentam a modernidade, a valorização de uma lógica instrumentalista e a noção cartesiana de mundo.
O autor defende que investir numa educação sensível significa mais que apostar no desenvolvimento de pessoas plenas e íntegras em relação com o mundo ao seu redor. É também apostar na criação de bases mais humanas sobre as quais podemos vir a consolidar parâmetros do conhecimento que sejam transdisciplinares ou holísticos.
Duarte Jr. destaca a prática de uma estrutura educacional mais sensível, flexível, e menos focada no volume de informações e conteúdos a serem transmitidos, como sendo o maior desafio dentre todos os desafios da educação. Eu concordo em gênero, número e grau! É imperativo romper com esse processo de embotamento ao qual todas as instâncias da sociedade vêm sendo submetidas, e que gera indivíduos superficiais, manipuláveis e consumistas. Como diz Duarte Jr. “Essa ‘anestesia’ que sofre o homem contemporâneo precisa ser revertida através de uma educação da sensibilidade.”