Um conceito que expressa muito bem a definição de história é esse: "História é o estudo das ações humanas ao longo do tempo e em um determinado espaço geográfico"(VICENTINO, 2014), posso concluir, portanto, que tudo que o homem diz ou escreve, tudo que constrói, tudo que toca pode e deve fornecer informações sobre ele (MARC BLOCK).
De modo que a história é a ciência que através das fontes disponíveis investiga as ações do homem no passado procurando solução de questões do presente, pois como diria Marck Bloch; "a incompreensão do presente nasce fatalmente da ignorância do passado".
A história no século XIX para se afirmar como ciência precisou desenvolver um método para o seu fazer científico, sendo assim dentro desse método foi determinado que a investigação histórica seria através dos documentos escritos e oficiais, sendo estes a máxima expressão da verdade e que falavam por si só, sem que fosse necessário a interferência do historiador.
Tal perspectiva de análise, não levava em consideração a história das sociedades ágrafas, sendo o termo pré-história designado pejorativamente para se referir a esse período da história anterior a escrita.
Sendo assim não é nenhuma novidade dizer que a história no século XIX esteve ligada aos grandes feitos de grandes homens e a serviço da legitimação de estados nacionais que surgiam, para legitimá-los ou consolidá-los.
Porém no século XX ocorre uma mudança de perspectiva na análise histórica, a escola metódica alemã, cuja características já foram descritas, é questionada por uma história que trazia novas abordagens e novos conceitos do que seria uma fonte histórica, para além dos documentos oficiais e escritos.
Nesta nova perspectiva o papel do historiador também muda e este passa a ter papel importante ao questionar a fonte para obter informações ao invés de apenas reproduzi-la, é nesse contexto que as sociedades ágrafas passam a despertar interesse através da análise da produção material que estes deixaram, como por exemplo as pinturas rupestres, as ferramentas e etc.
Com novas fontes sendo utilizadas na pesquisa histórica surgem novas abordagens novos sujeitos históricos, sendo assim uma história que ajuda na formação de um pensamento mais abrangente e crítico da sociedade.
É importante dizer que essa mudança referida acima esteve ligada a revista dos annales, muito dessas mudanças estavam ligadas a necessidade de buscar respostas satisfatórias, pois a primeira guerra mundial, quebrou com a perspectiva histórica tradicional de cunho progressista, que afirmava que a humanidade estava em progresso.
Nesta perspectiva existiam etapas que eram comuns a todas as sociedades e que todos os povos estavam em um estágio de evolução, do mais simples ao mais complexo, tal visão permitia, por exemplo que os indígenas da américa portuguesa fossem vistos como atrasados.
É possível observar permanências dessa visão eurocêntrica nos dias de hoje, como a divisão tradicional da história universal que traz como marcos de um período para o outro, acontecimentos ligados a Europa, apesar de ser utilizada até hoje essa divisão precisa receber a devida problematização.
Pois essa divisão sugere que toda a humanidade seguiu a mesma trajetória e não foi bem assim.
Pois bem retomemos a questão das fontes históricas, a história em seus primórdios antes de ser uma disciplina acadêmica baseava-se em evidências, por exemplo Heródoto considerado o pai da história, escrevia seus registros baseado em testemunhos de quem participou ou presenciou algum acontecimento, já Tucídides que escreveu sobre a guerra do Peloponeso dizia que só era possível escrever sobre algo que se presenciava.
Enfim, cada um a seu modo, mas o que são então as fontes históricas? Como já começamos a ver, elas são as evidências que permitem o trabalho do historiador. Na nova abordagem histórica do século XX, já mencionada, temos uma participação mais ativa e crítica do historiador e um acervo maior de fontes a serem consideradas.
Dessa forma, conforme a hipótese levantada pelo historiador e a forma de abordagem a fonte surgem diferentes perspectivas, de modo que a história não pode ser vista como algo acabado, pois a medida que o presente muda, também muda a visão do presente com relação ao passado com o intuito de obter respostas.
É interessante dizer que a história investiga uma determinada sociedade a partir da sua própria lógica, através do seu contexto, justamente para evitarmos anacronismos, que seria analisar uma sociedade do passado com a visão e conceitos do presente.
Assim como a arqueologia ajuda na análise da produção de conhecimento sobre um povo que não tinha escrita, por meio da análise da produção material, a antropologia ajuda a entendermos a lógica própria dentro do sistema de referências de cada sociedade.
Por exemplo alguns povos indígenas da américa portuguesa(região colonizada por Portugal) tinham a antropofagia como prática, esse ritual consistia em comer partes do corpo do guerreiro de uma tribo rival, pois assim eles achavam que iriam adquirir habilidades combativas do guerreiro em questão.
Ou seja, não era qualquer guerreiro somente aquele que tinha alguma virtude, sendo que o guerreiro que seria devorado se sentia honrado em participar, pois sabia que ser submetido a esse ritual era para poucos, como eu sei disso? Pois bem esse conhecimento é fruto da observação daqueles que conviveram com os indígenas.
A antropologia surge a partir da "descoberta do novo mundo" e da necessidade de conhecer sobre os costumes dos povos "américanos", inicialmente taxados de canibais.
Canibal é aquele que se alimenta de carne humana com o intuito de se alimentar e como vimos esse não era o objetivo do ritual antropofágico, usei esse exemplo para ilustrar a contribuição da antropologia no entendimento de certos contextos.
Pois bem como podemos ver a História foi se modificando, incorporando novos conhecimentos, como a antropologia, arqueologia, novas fontes foram utilizadas a partir de novas questões que surgiram e hoje ela continua viva e dinâmica buscado resposta, trazendo novos sujeitos históricos, novas abordagens, novos caminhos.